domingo, dezembro 28, 2008

"A carne mais barata do mercado é a carne negra!"

Somente uma pessoa tinha lido este texto e eu não queria deixá-lo ir ao ar por conta de discussões que mostrarão os meus amigos racistas. Tenho medo de saber quem são, mas "voa lá"... lá mesmo! Taí, Guga!


Você sempre acreditou no que lhe disseram. Principalmente aquela que acha que é superpoderosa, mas que não passa de algo fútil e totalmente fraco, a meu ver.

Quem dá poder a ela é você que ouve suas mentiras repetidas... e mentira repetida vira verdade...

Disseram a você que existe cabelo bom e cabelo ruim, que meus traços são grosseiros e que o padrão de beleza é "magro e alto", mas que também acolhe os olhos azuis.

De onde vim, muitos foram expulsos. Largaram sua terra pros colonizadores. Deram voltas e voltas na árvore do esquecimento para servirem de escravos (o que hoje chamam de empregados) pelo mundo.

Assim foi com a nossa Salvador. Aproximadamente 3 mil negros, mestiços e assemelhados nesta terra, isso lá depois da "descobrinvasão". Não contentes com as cores predominantes, os chefes desta cidade "importam" seus europeus e os fazem donos da cidade, que logo seriam os opressores do povo que aqui já estava.

Você ainda acredita em tudo que a superpoderosa diz. (?)

Você conhece o Holocausto, mas não conhece a Diáspora. Nem deve conhecer os Malês de Salvador. Exu, para você é diabo e orixá é do mal (Ixiiii... amarra o mal)...

Você acredita tanto no que a superpoderosa lhe diz que chama qualquer manifestação sincrética de macumba, enquanto isso é designação para um antigo instrumento musical de origem africana, parecido com o reco-reco, do qual seu tocador é chamado de macumbeiro. Sabe qual é o problema? Expressões arraigadas da cultura popular que nunca foram desmistificadas.

Mas, é muito bonito dizer que não somos racistas. É tão bonito esse discurso, pois ele vai de encontro com a política de cotas. Mas, é claro: "Pra quê cotas se não somos racistas? Agora eles são os racistas por quererem a separação."

Mas, observe: Você me maltrata até eu não poder mais. Quando dizem a você que você não pode mais fazer isto, você se reserva ao direito de me manter como seu empregado, agora com direitos assegurados pela Lei. Uau! Que incrível! Essa é a chamada alforria! Fantastic!

Mas, por mais que eu trabalhe para você, que, teoricamente, não me humilha mais, continuo à margem de tudo. Continuo seu escrav... ops, empregado e trabalho muito pra pôr comida na mesa, pois eu só trabalho para isto. Eu não posso estudar, nem os meus filhos, pois a sua classe já tomou conta dos espaços e, como num passe de mágica, membros de sua classe construíram instituições de ensino e cobram caro por uma formação.

Fechando os cercos, hein!!!!

E depois vem me dizer que o governo está errado quando repara um erro da sociedade e disponibiliza para mim e para tantos irmãos as cotas na Universidade Pública.

Ah, você paga impostos? E paga mais que eu? Tá reclamando de quê? Você pode, não é? Eu não! Mas, no Brasil é assim mesmo, quem não pode que se foda!


A CARNE - ELZA SOARES


RESPEITEM MEUS CABELOS, BRANCOS - CHICO CÉSAR & PAULINHO MOSKA


HAITI - GILBERTO GIL & MV BILL


O MAIS BELO DOS BELOS






3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito do texto, é totalmente atual real, enquanto a nossa sociedade, não acabar com essa separação de branco/negro, alto/baixo, bom/ruim etc. Vamos ter esses tipos de coisas. Mas acima de tudo temos que acabar com o racismo entre os proprios negros.

Anônimo disse...

Cleber, pior que existem negros que são cúmplices do sistema. Alguns vivem bem e ignoram o sofrimento dos próprios irmãos.

Geise disse...

De intensa sensibilidade o post. Nossa Bahia é o lugar onde há mais negros fora da África, e a maioria de nós é lindamente mestiça.
Mas a marginalidade (no sentido literal - [des]qualidade de estar à margem da sociedade) histórica demonstra o quão triste é a situação deste povo, escravo do salário mínimo, ou de agrados, no caso das empregadas domésticas, ou de esmolas, no caso dos flanelinhas, guardadores de carros, etc...
A distribuição da riqueza na Bahia é a pior do país, o que é nítido ao percorrer Salvador.
Sim, ao menos vamos compartilhar as oportunidades de adquirir conhecimento formal.